Neuroplasticidade: Traçando Novos Caminhos no Cérebro

O cérebro adulto é capaz de formar novas células e os neurônios não danificados podem gerar novas terminações nervosas para se ligarem a outras células. Isso significa que o cérebro continua a se reorganizar, ao longo da vida, estabelecendo novas conexões. Esse fenômeno permite que o cérebro compense a função perdida por doença ou lesão e reconecte sua atividade, em resposta a novas experiências ou mudanças no ambiente.

Para executar funções específicas, neurônios em diferentes áreas do cérebro formam redes complexas de interações, conhecidas como redes funcionais. “Após danos a uma parte específica do cérebro, as partes remanescentes dentro da mesma rede funcional podem aprender a assumir as funções que foram perdidas”, diz Netta Levin, neurologista chefe da unidade de ressonância magnética funcional da Hadassah, Centro Médico da Universidade Hebraica de Jerusalém. “Em essência, o cérebro recruta outras regiões não lesadas dentro da mesma rede, para compensar a disfunção causada por lesão”, diz ele.

Algumas regiões do cérebro são mais “plásticas” do que outras, diz Levin. Áreas que recebem e integram informações de muitos sentidos diferentes, tais como aquelas envolvidas em funções como memória, julgamento e tomada de decisão, têm maior plasticidade do que aquelas regiões que recebem e interpretam informações de uma única fonte principal, como a área dedicada à visão. 

Na Esclerose Múltipla, essa neuroplasticidade é, provavelmente, responsável por ocultar alguns sintomas visíveis da doença, especialmente no início. As evidências mostram que, após uma recidiva da EM, em que há perda de mielina, as fibras nervosas podem recuperar alguma função ao reorganizar suas propriedades elétricas. Além disso, a recuperação funcional dos sintomas envolve uma redução da inflamação, algum reparo da mielina dentro das áreas de dano (lesões) e redes adaptativas do cérebro para restaurar a função perdida.

Estudos usando Ressonância Magnética Funcional descobriram que, devido à neuroplasticidade, o cérebro das pessoas com esclerose múltipla é organizado de maneira diferente do que o cérebro das pessoas que não têm a doença. Por exemplo, pessoas nos estágios iniciais da EM ativam mais regiões durante uma determinada tarefa do que pessoas sem a doença. Isso sugere que a neuroplasticidade pode estar envolvida muito precocemente no processo da doença, e que essa ativação extra é uma forma de o cérebro fazer uma compensação, permitindo que a pessoa com EM mantenha a função motora e cognitiva. 

No entanto, a capacidade do cérebro de se ajustar para acumular danos na EM varia de pessoa para pessoa e entre os diferentes tipos de doença. Além disso, a neuroplasticidade tem seus limites. O cérebro se torna menos plástico com a idade e a duração da doença.

Fazer novas conexões neurais depende da experiência e do ambiente de um indivíduo. “Podemos melhorar a neuroplasticidade por meio de exercícios, nutrição equilibrada, evitar agentes tóxicos, como excesso de álcool ou tabaco, e nos envolver em situações cognitivas exigentes e novas”, diz Krupp.

Uma atividade tão simples quanto se exercitar com um videogame pode criar novos caminhos neurais e melhorar as habilidades motoras. Em um estudo, pessoas com esclerose múltipla usaram uma placa de equilíbrio Nintendo Wii e videogames, cinco vezes por semana, para sessões de exercícios de 30 minutos, por 12 semanas. No final do estudo, não apenas muitos deles tiveram um melhor equilíbrio, mas também mostraram conectividade aumentada em várias regiões do cérebro, conforme detectado na Ressonância Magnética. Este achado implica que o treinamento físico repetitivo aumenta a neuroplasticidade, que é responsável pela melhora da função.

Também há evidências recentes sugerindo que aprender novas tarefas motoras – como um novo passo de dança, por exemplo – realmente constrói uma nova mielina. Mas não é apenas o treinamento físico que traz benefícios. “Um ambiente cognitivamente estimulante pode impulsionar a reorganização do cérebro e pode melhorar o desempenho”, diz Levin.

De fato, estudos de Ressonância Magnética mostram que as intervenções voltadas para a recuperação – por exemplo, tratamentos destinados a melhorar a atenção, memória e processamento de informações – aumentam a atividade cerebral e estimulam a neuroplasticidade. Mais importante, as pessoas que se envolvem nessas atividades melhoram seu desempenho cognitivo. Para impulsionar seu cérebro, faça uma aula, aprenda a tocar um instrumento musical ou se envolva em novos hobbies.

Há muito mais o que se aprender sobre a neuroplasticidade e os mecanismos pelos quais o cérebro compensa a inflamação e degeneração nervosa observada na EM. Pesquisas futuras estão tentando identificar as estratégias de treinamento mais eficazes para estimular a neuroplasticidade. “Os resultados desta pesquisa ajudarão a nos guiar no planejamento de estudos futuros”, diz o Dr. Krupp, e pode ajudar a desenvolver novas estratégias para melhorar a função cognitiva.

Referência: Momentum Magazine, “Forging new pathways in the brain”, escrito por, Cynthia L. Kryder – link original: https://bit.ly/2LeFifg

Um comentário

  1. Maria de lourdes carneiro disse:

    Muito boa reportagem, despertou meu interesse por ter minha vida transformada por uma alteração na fala, na mastigação e no engolir. Já fiz vários exames e consultei diversos especialistas, porém até agora não recebí nenhum tratamento que resultasse em melhora. Continuo na busca de resultados e sem duvida um dos principais caminhos depende de mim mesma, como orienta a reportagem sobre novas conexões neurais. Receba minha gratidão.

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