A disfagia orofaríngea é caracterizada por qualquer dificuldade no transporte do alimento da boca até o estômago, podendo trazer prejuízo aos aspectos nutricionais, de hidratação, estado pulmonar e social do indivíduo, interferindo em sua qualidade de vida.
As alterações na biomecânica da deglutição de pacientes com Esclerose Múltipla (EM) têm sido estudadas em diversos países do mundo e, embora estudos epidemiológicos apontem a prevalência de disfagia entre 33% e 43%, essa estatística pode ser ainda maior.
A disfagia orofaríngea é mais comum em pacientes com maior gravidade de incapacidade motora aferida pela escala de incapacidade expandida (EDSS) e com comprometimento nos sistemas funcionais de tronco cerebral, cerebelar, mental e piramidal.
Estudos clínicos e videofluoroscópicos da deglutição de pacientes com EM descrevem diversos comprometimentos nas fases oral e faríngea da deglutição, como dismotilidade e prejuízo na retração da língua, atraso ou prolongamento da fase faríngea da deglutição, disfunção no esfíncter esofágico superior, déficit de fechamento laríngeo e diminuição de sensibilidade laríngea e/ou faríngea. Foram descritos, ainda, problemas posturais, cognitivos e de capacidade e controle respiratórios nestes pacientes, o que pode acarretar em agravamento do distúrbio de deglutição, associado à desnutrição, desidratação e pneumonias aspirativas.
São considerados sinais clínicos de alerta quanto a dificuldade de deglutição nesses pacientes:
- Regurgitação nasal de alimentos
- Tempo prolongado de refeição
- Dificuldades para triturar os alimentos durante a mastigação
- Perda de peso nos últimos seis meses
- Internações frequentes por pneumonia
- Modificação na qualidade vocal após as alimentações
- Modificação voluntária da consistência alimentar
- Tosse ou engasgos antes, durante e após as refeições
- Sensação de bolo na garganta durante a deglutição
Em caso de ocorrência de um ou mais desses sintomas, sugere-se que o paciente seja encaminhado para avaliação fonoaudiológica especializada, na qual serão identificados os seguintes aspectos:
- Fisiopatologia da alteração de deglutição, apresentada por cada paciente, e risco de aspiração laringotraqueal;
- Orientações quanto a viabilidade da alimentação por via oral e consistência mais adequada, em vista das alterações orofaringolaríngeas apresentadas;
- Necessidade de encaminhamento para avaliação instrumental de deglutição;
- Delineamento do planejamento terapêutico especifico para cada caso;
- Encaminhamento para programas de reabilitação da disfagia.
Por Deborah S. Sales
Fonoaudióloga; Doutora em Neurologia pela UNIRIO; Mestre em Neurologia pela UNIRIO, Docente do curso de Graduação em Fonoaudiologia da Universidade Veiga de Almeida; Coordenadora técnico-cientifica da Fonolife Serviços de Fonoaudiologia; Fonoaudióloga do Hospital Universitário Gafrèe Guinle – UNIRIO
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