Células estaminais podem tratar esclerose múltipla

No Reino Unido, uma terapia experimental está tirando doentes da cadeira de rodas.

O mesmo método já foi utilizado em Portugal

Em 2013, Steven Storey teve o choque da sua vida: foi diagnosticada com Esclerose Múltipla, uma doença autoimune que pode provocar a neurodegeneração do sistema nervoso central. Em um ano, ficou dependente de uma cadeira de rodas.

“Passei de correr maratonas para me tornar alguém que precisa de cuidados 24 horas por dia. Houve momentos em que nem numa colher conseguia segurar”, revelou, na BBC. Poucos dias depois do transplante de medula óssea, usando as suas próprias células estaminais hematopoiéticas (as que dão origem às células do sangue), Steven começou por mexer os dedos do pé e, quatro meses depois, apesar de ainda precisar da cadeira de rodas, já consegue nadar e andar de bicicleta.

Steven Storey foi um dos 20 pacientes de esclerose múltipla do Royal Hallamshire Hospital em Sheffield, no Reino Unido, que nos últimos três anos recebeu o tratamento – que envolve quimioterapia –, usado também em casos de leucemia.

“O sistema imunológico é reprogramado para voltar ao ponto anterior ao que causou a doença”, diz John Snowden, hematologista no hospital. Em Portugal, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) a mesma terapia experimental já foi aplicada, há cerca de dois anos, num doente em estado muito avançado – e serviu mesmo para estabilizar a evolução da doença, estancando a sua progressão.

“É um tratamento que ainda não está aprovado e só é feito em casos muito graves, que não respondem a nenhuma terapêutica. Há doentes que conseguimos tratar com terapêuticas mais fáceis, sem correr tantos riscos”, explica Sónia Batista, neurologista no CHUC.

“Neste género de estudos é preciso avaliar os riscos que se correm, se é eficaz ou não, pois na fase em que o doente fica sem medula óssea corre o risco de morrer de uma infeção grave, ficando completamente imunodeficiente. É um tratamento muito agressivo”, acrescenta a médica. Por enquanto, diz, não se vai generalizar a todos os doentes, que em Portugal já ultrapassa os cinco mil.

Casos de sucesso como o de Steven são muito raros e dependem da fase da doença. “Alguém em cadeira de rodas há dez anos não vai recuperar por causa deste tratamento”

Fonte: Revista Visão (Portugal); edição março 2018

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