Projeto 50 Metros – Impacto e a Superação

Escrito por Juliana Menezes, escritora, participante do Projeto 50 Metros, diagnosticada com EM, há 3 anos

Receber o diagnóstico de qualquer doença nunca é fácil e, para Wellington, também não foi. Porém, essa fase do impacto durou apenas alguns instantes. Diante do médico, rapidamente indagou: “E aí, doutor, como é que se vive com esclerose múltipla? O que eu preciso fazer? Sou formado em Educação Física, preciso trabalha e voltar à rotina”.

Naquele momento, o impacto já não era do paciente, mas, sim, do médico que, impressionado com a determinação de Wellington, falou sobre o planejamento terapêutico e o que ele poderia esperar dali pra frente.

Alguns dias se passaram, as fases propostas para tratamento foram cuidadosamente cumpridas e, ao sair do hospital, e ver a vida acontecendo lá fora, Wellington percebeu que dali para frente era o seu momento de continuar. E ele seguiu em frente, porém, esquecido da Esclerose Múltipla que, por muitos anos, ficou silenciosa em sua vida e nada o exigiu.

Em um determinado dia de 2017, tudo aconteceu de maneira diferente. Amanheceu com dor de cabeça, enjoo, fraqueza, tontura, visão estranha, formigamentos. Seguramente, estava diante de um novo surto. A EM o parou pela segunda vez e o tal do planejamento terapêutico aconteceu novamente. Mais uma pulsoterapia e, agora, o médico havia prescrito uma medicação. Fez novamente a pergunta: “Doutor, a pulso acabou. Posso ir embora, dar entrada no pedido de remédio e voltar ao trabalho e à rotina?”. A resposta foi positiva, mas a orientação era de que, desta vez, seria um pouco diferente, com a utilização de remédios diários, reabilitação para as sequelas e a necessidade de desacelerar. Naquele momento, percebeu que novos desafios viriam.

Hoje, passada a fase do impacto, ele se permite parar no tempo, analisar, observar o próprio corpo e é tomado por uma série de sentimentos e sensações.

Pretensiosamente, o corpo corre, nada, pedala, pega peso, supera limites, contudo, entre um desafio e outro, este mesmo corpo toma injeções diárias e, ao início de cada corrida, sente as pernas pesarem como se tivessem correntes presas a seus pés. Há dias em que praticar natação é seu maior adversário, mas, em contrapartida, uma banheira com água e gelo vem como sua aliada para amenizar dores e sintomas.

Well, como é chamado, vê-se preocupado com o resultado do novo exame que terá que fazer em breve, sente as costas dormentes e tenta meditar para manter o controle emocional. Mas a rotina segue: levanta, prepara seu café, aplica a injeção, veste-se do melhor de si e sai sentindo o sangue correr e o coração pulsar por uma vontade explícita de se manter vivo, com qualidade de vida.

No dia 24 de Janeiro deste ano, Well acordou eufórico, pois seria o dia da assinatura que confirmaria todos seus objetivos e desafios traçados. Era o dia da inscrição da tão esperada prova que resolveu participar: IronMan, que acontecerá em setembro. Naquele momento, não era mais um homem qualquer, um apaixonado por esporte, em busca de qualidade de vida, dono de uma teimosia insana de não aceitar cruzar os braços e esperar mais uma página da vida virar da maneira como ela bem entendesse, era um homem certo de que muitas coisas já lhes foram concedidas. Naquele papel tinha a marca de um homem com EM e não a EM dominando aquele homem.

A partir desta assinatura, passa por horas de treino e momentos silenciosos, planejando cada segundo, cada etapa, reconhecendo o próprio corpo, o próprio limite, os sintomas que possam aparecer. Somado a isso, segue uma dieta controlada, sempre acompanhado por apoiadores que se dedicam e se entregam a este momento, não por ser o IronMan, mas, sim, por acreditar que um homem com o “rótulo” de uma doença crônica e sem cura, pode, a cada dia, superar-se. Superação esta que começou no momento da assinatura.

Naquele dia ele parou, as lágrimas escorreram, o coração acelerou e ele agradeceu a Deus por tudo que já alcançou e pela oportunidade diária de se superar. “Independente de terminar a prova, estarei lá, certo de que meus apoiadores também estarão ali por mim e pelo projeto 50metros”. E assim, ao voltar pra casa, aquele homem simples retoma a sua rotina, mas com uma certeza: aquela assinatura mudara tudo em sua vida.

Ao conhecer a rotina do Well descobri o sentindo da palavra disciplina. Uma rotina planejada e regrada que incluía alimentação, trabalho, compromissos pessoais, treinamento, recuperação e descanso.

Um dia, durante uma viagem, perguntei como seria o dia dele. Respondeu rapidamente: “Tomar café, pedalar e  resolver os compromissos que tenho programado”. Outra vez fiz a mesma pergunta, em um dia de muita chuva no Rio de Janeiro, e eis que respondeu que iria correr. No mesmo momento, indaguei se não poderia ir depois da chuva ou no dia seguinte. Categórico, disse: “Não posso escolher treinar de acordo com a previsão do tempo. No dia do Ironman, terei que fazer a prova com chuva ou com sol”.

Confesso que fui em busca da palavra para começar a entender essa determinação e concluí que o que norteia Well, durante esta fase, é a disciplina que ele possui. Não se trata do homem que um dia sonhou em ajudar muitos com um lindo e inspirado projeto, também não é um homem apenas, trata-se de momentos, sentimentos intensos e verdadeiros, em uma conexão plena de um homem só, que se permite e se dedica, a cada instante, a sentir-se vivo.

:: Quer saber mais sobre o Projeto 50 Metros? Então, acesse: goo.gl/Zho1hc

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