Para muitos pacientes essa pergunta é importante.
Conhecido como o “exame do JC”, esse teste nada mais é do que buscar analisar no sangue a presença de anticorpos para o vírus “John Cunningham”, cujas iniciais se referem ao “JC” muito falado por aí. Uma vez que se identifica anticorpos para este vírus em um paciente, uma informação valiosa se estabelece para quem fará ou estiver em uso de Natalizumabe.
Vamos falar um pouco em Natalizumabe para entendermos essa história.
O Natalizumabe, também por conhecido por Tysabri (nome comercial), é um tratamento considerado de alta eficácia para o controle da Esclerose Múltipla Remitente Recorrente. Sua ação de proteção contra a atividade da doença se faz por um mecanismo muito peculiar: bloqueia a entrada dos linfócitos agressivos no sistema nervoso central e, dessa forma, atua de forma bem intensa no controle dos surtos e do surgimento de novas lesões no cérebro e na medula espinhal, reduzindo o risco de acontecer o que é mais indesejado na vida de quem tem essa enfermidade – o acúmulo de sequelas.
No entanto, este especial mecanismo de ação do medicamento determina um risco pontual e específico ao paciente. Este é o ponto de ligação ao vírus JC: o paciente que, em algum momento de sua vida, esteve em contato com o JC apresentará no seu sangue anticorpos para este vírus e esta marca imunológica se reconhece ao “exame do JC” ser POSITIVO. Outro ponto importante é que, além de definir se o paciente é positivo ou negativo, também é analisado, nos positivos, o valor do index de sua positividade, ou seja, um paciente pode ser positivo BAIXO, MÉDIO ou ALTO.
Os pacientes que fazem uso de Natalizumabe e que apresentam o exame de JC positivo possuem risco de desenvolver a infecção deste vírus. Esta infecção é chamada de Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (LEMP). Assim, ao se iniciar o tratamento, o paciente deve conhecer seu resultado do exame do JC, para que possa compreender seu risco. Nos pacientes negativos para o JC, o risco é praticamente ausente, mas, naqueles em que o resultado é positivo, este risco pode variar de um caso de LEMP em 10 mil pacientes tratados, até riscos altos, de 1 caso a cada 100 tratados.
Outro ponto de cuidado é que pacientes negativos podem, ao longo do tempo, tornarem-se positivos. Dessa forma, é indicado a repetição do exame a cada 12 meses. Também é recomendado repetir o exame nos que são positivos, porque existem pacientes que podem mudar de index, ou seja, pacientes inicialmente JC positivos baixos podem se tornar médios ou altos, modificando o risco de LEMP.
Além do exame do JC, existem outros dois parâmetros que se somam ao cálculo do risco de LEMP: o tempo de uso do Natalizumabe e o histórico de uso de imunossupressores (como, por exemplo, em pacientes que fizeram uso anterior de azatioprina ou mitoxantrone). Estes parâmetros são a forma atual de se lidar com o risco de LEMP nos pacientes que irão iniciar seu tratamento com Natalizumabe ou naqueles que já estejam em uso da medicação.
A decisão de se fazer uso do Natalizumabe em pacientes JC negativos é indiscutivelmente vantajosa, no entanto, nos positivos que apresentem os outros dois parâmetros que estabelecem, em conjunto, risco maior de se desenvolver a infecção pelo vírus JC, a indicação do tratamento e sua permanência nele deverá ser feita com cautela e por neurologistas experientes no manejo e monitoramento desta opção terapêutica e sua complicação mais temida – a LEMP. A compreensão destas informações por parte dos médicos e dos pacientes é fundamental para o mais correto e adequado uso e seguimento desta valiosa opção terapêutica.
Por Marcos Alvarenga, neurologista especializado em EM e coordenador científico do site Esclerose Múltipla Rio
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