A Neuromielite Óptica (NMO) é uma enfermidade do Sistema Nervoso Central que acomete, preferencialmente, mulheres asiáticas e afrodescendentes, ocasionando grave perda visual e/ou de força nos membros (paralisia), de forma temporária ou definitiva. A NMO recebe o nome de Doença de Devic, em referência ao médico de Lyon, na França, que, em 1894, publicou um relato de caso de mielite, associada à perda de visão bilateral de evolução grave e curso fatal.
A Neuromielite Óptica pode ser confundida com Esclerose Múltipla (EM), já que ambas são enfermidades neurológicas autoimunes, de causa desconhecida, que afetam primariamente a mielina. No entanto, diferem quanto à prevalência, padrão imunológico, tratamento e prognóstico.
Ao contrário da EM, que é a enfermidade neurológica mais exaustivamente estudada no Hemisfério Norte, poucas são as informações sobre a história natural da NMO, possivelmente, por haver poucos casos e por ter sido reconhecida como uma doença diferente da EM, somente no século XXI.
Os primeiros 24 casos de NMO recorrente, identificados no Brasil, foram diagnosticados no Serviço de Neurologia do Hospital da Lagoa e, em seguida, divulgados, com o apoio de um grande pesquisador americano, professor Charles Poser (2002).
A partir do reconhecimento da NMO, grande parte do nosso atendimento neurológico se relaciona ao atendimento dos pacientes com essa doença. Para cada seis pacientes com EM é atendido um paciente com NMO ou síndromes parciais, como Mielites e Neurite bilaterais.
A identificação da NMO como uma doença diferente da EM se tornou possível pelo avanço do conhecimento sobre imunologia e a identificação de um marcador biológico, um anticorpo que se liga à Aquaporina 4 (Anticorpo Anti-Aquaporina 4) no sangue de pacientes com a doença.
Diagnóstico
O diagnóstico que diferencia a EM da NMO é baseado em critérios onde são incluídos dados clínicos e dados de exames, como a ressonância magnética (RM), o estudo do líquido cefalorraquiano (LCR) e os potenciais evocados, além da pesquisa do anticorpo, que pode estar ausente em 50% dos casos de NMO.
A importância do diagnóstico diferencial entre EM e NMO está no tratamento. As drogas que são utilizadas para EM agravam a NMO. Na NMO, os imunossupressores tem melhor resultado, assim como o Rituximabe, um anticorpos monoclonal utilizado em larga escala como a principal medicação para o tratamento desta condição.
É fundamental a necessidade de divulgação desta doença para que pacientes possam ter direito a medicações e a direitos sociais, à semelhança do que acontece com pacientes com Esclerose Múltipla.
Por Regina Alvarenga, neurologista chefe do serviço de neurologia do Hospital Federal da Lagoa
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