Uma dor que pode ser física, moral ou emocional, mas não importa classificar. É dor que dói na alma e no corpo, que machuca, entristece, e faz a vida desvanecer e perder o sentido.
O Suicídio é um tema muito sério em nossa sociedade, chegando a ser tabu falar sobre ele. É um tema profundo, porque é um grito da alma (subjetivo) que culmina em autoagressão irreversível ao corpo (objetivo).
É também um tema longo e complexo, pois envolve diversos fatores externos e internos da vida da pessoa. Aqui, vou me ater a poucos e importantes aspectos do suicídio nas doenças crônicas, especificamente a esclerose múltipla (EM).
Pensar em suicídio faz parte da natureza humana, o impulso também é uma reação natural, porém, é mais comum nas pessoas que estão exaustas emocionalmente, desesperançadas e fragilizadas diante de situações que despertam a possibilidade de cometer o ato como forma de alívio da dor. O suicídio não está necessariamente ligado a uma doença mental, mas, sim, a um momento crítico da vida. Pessoas de todas as idades e classes sociais cometem suicídio. A cada 40 segundos, uma pessoa se mata no mundo, totalizando quase um milhão de pessoas, todos os anos. Estima-se que de 10 a 20 milhões de pessoas tentam o suicídio a cada ano e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos, desde que existam condições mínimas para oferta de ajuda voluntária ou profissional.
No Brasil, a média é de 6 a 7 mortes por 100 mil habitantes, bem abaixo da média mundial, que fica entre 13 e 14 mortes por 100 mil habitantes. Mas o que é preocupante é que, enquanto a média mundial permanece estável, no Brasil esse número tem crescido, principalmente entre os jovens. Indivíduos preocupados com esta triste realidade uniram esforços e criaram uma rede de prevenção voluntária que atua nesse sentido, há mais de 50 anos, denominada Centro de Valorização da Vida (CVV), e, em 2006, o Ministério da Saúde apresentou um programa de Diretrizes Nacionais de Prevenção do suicídio.
Além dos jovens, outro grupo com risco aumentado de suicídio é o de pessoas com doenças crônicas. Estas doenças se desenvolveram ao longo do tempo, causando sofrimento ao paciente e aos familiares (geralmente os tratadores), e em algumas patologias, como a EM, deixa um comprometimento funcional, causando dependência física e psicológica e perda gradual da autonomia, podendo até se transformar em um transtorno psiquiátrico.
A depressão está entre os Transtornos psiquiátricos mais comumente associados ao risco de suicídio, os demais são: Transtorno bipolar, Dependência química e Esquizofrenia. A depressão é o transtorno mais comumente relatado na EM. A dificuldade do indivíduo em aceitar e se adaptar a sua nova condição, o medo e a sensação de impotência que geram crescentes preocupações com o futuro, a incerteza da evolução da doença, o impacto negativo das mudanças/incapacidades que podem ocorrer no corpo e na mente, e também na autoimagem e autoconfiança, contribuem para a internalização dos sentimentos negativos de raiva e ódio, que não encontrando uma expressão sadia, culminam em autoagressão e suicídio. A própria característica da EM, de ser uma doença onde o sistema imunológico não reconhece a bainha de mielina, já faz dela uma doença de autoagressão ao próprio corpo.
Em relação ao comportamento e ideação suicida, alguns sinais são passíveis de serem identificados, ao ouvir atentamente a história de vida e observar o comportamento da pessoa:
- Comportamento retraído, inabilidade para se relacionar com a família e amigos;
- Doença psiquiátrica;
- Alcoolismo;
- Ansiedade ou pânico;
- Mudança na personalidade, irritabilidade, pessimismo, depressão ou apatia;
- Mudança no hábito alimentar e de sono;
- Tentativa de suicídio anterior;
- Odiar-se, sentimento de culpa, de se sentir sem valor ou com vergonha;
- Uma perda recente importante – morte, divórcio, separação, surto com uma sequela física importante, perda de emprego e outros;
- História familiar de suicídio;
- Desejo súbito de concluir os afazeres pessoais, organizar documentos, escrever um testamento e outros;
- Sentimentos de solidão, impotência, desesperança;
- Cartas de despedida;
- Doença física;
- Falar repetidamente de morte ou suicídio.
Se há alguma desconfiança, é importante que se converse diretamente com a pessoa que está sofrendo. Um diálogo aberto, respeitoso, empático e compreensivo pode fazer a diferença. Procurar saber sobre a pessoa, o que tem feito ultimamente, como está se sentindo, se há algo incomodando. O foco da conversa deve ser a pessoa, deixar falar sobre si mesma, seus problemas e oferecer soluções simples, demonstrar outras formas de encarar os problemas sem minimizar o que a pessoa sente. Oferecer suporte emocional e informar ou oferecer ajuda profissional, bem como se mostrar à disposição, caso ela queira conversar novamente, são pontos importantes.
O que não fazer:
- Ignorar a situação;
- Ficar chocado ou envergonhado e em pânico;
- Falar que tudo vai ficar bem;
- Desafiar e criticar a pessoa;
- Fazer o problema parecer trivial;
- Dar falsas garantias;
- Jurar segredo;
- Deixar a pessoa sozinha.
Se a pessoa falar claramente sobre os seus planos de se matar e parecer estar decidida quanto a isso, é primordial:
- Estar junto da pessoa. Nunca deixá-la sozinha;
- Falar gentilmente;
- Não deixar à vista remédios, objetos cortantes, arma, inseticida, colocar grades nas janelas e varandas de forma a manter distante dela os meios de cometer suicídio;
- Alertar o profissional da saúde mental ou médico imediatamente e/ou providenciar uma ambulância e hospitalização;
- Manter a família informada e reafirmar seu apoio.
Estas são algumas maneiras de detectar e lidar com pessoas nesta situação de risco. É aconselhável sempre o acompanhamento de um profissional de saúde mental já nas primeiras dificuldades emocionais relacionadas ou não com a EM. Nunca minimizar os fatos e a dor do indivíduo. Ajudar ele a falar de seus sentimentos, a se ouvir falar, isso o ajuda a organizar a experiência de vida e uma intervenção positiva ajuda a ampliar o campo de possibilidades de escolha e atuação para quem só vê no suicídio uma saída.
Por Heleine Clemente; psicóloga e mestre em Neurociências
Setembro Amarelo: todos em prol da prevenção ao suicídio
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