O papel do canabidiol na Esclerose Múltipla

A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença neurológica crônica de cunho inflamatório e neurodegenerativo, caracterizada por uma série de danos nas fibras nervosas do cérebro e da coluna vertebral. Por se tratar de uma condição autoimune, o vilão é o próprio sistema imunológico do paciente, que ataca e degenera as fibras nervosas que auxiliam a condução dos impulsos elétricos pelos neurônios, provocando a formação de um tecido cicatricial endurecido na área da lesão. Em estágios avançados, a perda dessas fibras é tamanha que pode resultar na completa interrupção do impulso elétrico, causando dificuldade de locomoção, equilíbrio e visual de forma progressiva, frequentemente levando o paciente à invalidez. O processo de degeneração dessas estruturas recebe o nome de desmielinização, pois é a bainha de mielina a principal afetada.

Os principais sintomas associados à EM incluem fadiga, dificuldade em caminhar, espasmos musculares, dormência, fraqueza, tontura, problemas de visão, de bexiga e intestino, dores, depressão, alterações cognitivas, emocionais e até convulsões. Afeta mais de 30 mil pessoas no Brasil, porém, este número pode ser bem maior devido ao conhecimento ainda raso da patologia, inclusive com relação à sua etiologia e cura. Geralmente, manifesta-se entre os 20 e 40 anos, existe uma propensão maior de mulheres contraírem a doença e, geograficamente, é mais frequente em regiões de climas mais frios.

Suas causas ainda não são bem definidas, podendo ser desencadeada por uma pré-disposição genética somada a fatores de risco epidemiológicos como tabagismo, infecções virais e deficiência de vitamina D. Ainda não existem terapias que promovam a cura da esclerose múltipla, portanto as opções de tratamento se resumem ao controle e prevenção dos surtos, frequentemente requisitando uma abordagem multidisciplinar como mudanças nos hábitos alimentares, exercícios físicos, acompanhamento psicológico e uso de imunomoduladores para retardar a progressão da doença.

Componentes encontrados na Cannabis sativa L., como o canabidiol (CBD), podem entrar como importantes aliados na garantia de qualidade de vida para o paciente. O CBD é apenas um dos mais de 120 fitocanabinoides da planta e vem sendo amplamente empregado no tratamento de doenças debilitantes. Com propriedades anti-inflamatórias, os canabinoides podem atuar na desaceleração do processo neurodegenerativo, promover a neurorregeneração e proteção, limitando a progressão da doença. O uso do CBD também se encaixa muito bem dentro de vários dos sintomas descritos anteriormente: já é muito utilizado como uma potente alternativa analgésica em pacientes com dores neuropáticas; seu efeito ansiolítico e sobre o humor também fazem do CBD um ótimo antidepressivo, combatendo o desequilíbrio mental; controle das convulsões, tendo as doenças que causam crises epilépticas (convulsivas ou não) como a principal responsável pela procura do produto no país; além do controle de espasmos musculares, neste caso comumente administrado com doses equivalentes de THC, o composto psicoativo da Cannabis sativa, com excelentes resultados antiespasmódicos.

Diversos estudos* reportaram os efeitos benéficos do CBD em doenças autoimunes além da EM, como artrite reumatoide, diabetes tipo 1 e síndrome do intestino irritável. O segundo receptor descrito do sistema endocanabinoide, o CB2, possui atividade intimamente relacionada com o sistema imunológico, visto que é expresso predominantemente em células do sistema imune e periférico.

No caso da esclerose múltipla, a reativação de células T patogênicas que atravessaram a barreira hematoencefálica implica na liberação de diferentes citocinas e mediadores pró-inflamatórios no SNC, promovendo o recrutamento de células fagocitárias que realizam o ataque à bainha de mielina. Estudos também permitem relacionar a utilização de CBD com EM e as demais doenças autoimunes, pois já foi demonstrado um efeito imunosupressor sobre alguns tipos de linfócitos T. Ademais, há ainda uma possível ação antioxidante do CBD contra os radicais livres que danificam as células sadias.

Os potenciais benefícios dos canabinoides já são bem evidenciados tanto em modelos animais de EM como em estudos observacionais em seres humanos. Somado ao seu perfil altamente seguro, com certeza devem ser considerados como fortes aliados na condução do tratamento de pacientes com esclerose múltipla, oferecendo ao paciente qualidade de vida e eliminando ainda os sintomas adversos frequentemente causados por terapias convencionais.

Escrito por: Gabriel Barbosa – Analista de projetos científicos e desenvolvimento regulatório da HempMeds Brasil, bacharel e mestre em Biotecnologia pela UFSCar e UNIFESP, possui experiência laboratorial multidisciplinar em microbiologia aplicada, produção de biocombustíveis, bioprospecção e farmacologia de produtos naturais. Vê a Cannabis como a planta da qual se pode obter a maior diversidade de produtos biotecnológicos de alto valor, empregáveis não só na indústria farmacêutica, mas também têxtil, cosmética, construção civil, alimentícia e bioenergia.

>> Perguntas mais frequentes sobre o CBD:

O canabidiol é alucinógeno? Não

O CBD não é uma substância psicoativa e não causa o barato associado à Cannabis. O THC é o composto psicoativo da planta quando em concentração acima de 1%.

O uso do CBD é legal no Brasil? Sim

Em 2014, a luta da família Fischer garantiu a mudança da lei brasileira. Hoje, a ANVISA aceita pedidos de importação para pacientes com receita e laudo médico.

O CBD gera dependência química? Não

O canabidiol não apresenta qualquer efeito indicativo de abuso ou potencial de dependência, sendo seguro para o consumo.

Maconha e cânhamo são a mesma coisa? Não

Ambas pertencem à mesma espécie, Cannabis sativa, mas possuem diferenças na composição química e na morfologia. O cânhamo possui menos de 0,3% de THC em sua composição, sendo rico em CBD. Dessa forma, não é psicoativo e pode ser utilizado de forma segura durante os tratamentos.

Qualquer especialidade médica pode receitar canabidiol? Sim

Médicos com o CRM ativo podem indicar o canabidiol para seus pacientes, contribuindo para o tratamento de diversas patologias.

Canabidiol apresenta reação adversa?

O canabidiol por não apresentar nenhum efeito psicoativo; normalmente também não tem efeitos colaterais ou adversos severos, tornando-se, dessa forma, uma medicação segura e eficaz para pacientes de todas as idades.

Eu preciso fumar? Não

As vias de administração de canabidiol são diversas. Via oral – cápsulas, óleo líquido, pasta concentrada. Aplicação tópica – pomadas e cremes; dentre outras.

Qual a dose de CBD que devo tomar?

Para descobrir a dose adequada ao seu tratamento, sempre consulte um médico especialista. É o único profissional indicado para a prescrição.

Qual a diferença entre o CBD sintético, importado e caseiro?

O CBD sintético é um composto químico, que não apresenta outro composto, senão o canabidiol. Diferente do óleo importado e/ou caseiro que apresenta outros canabinoides, terpenos, clorofila e minerais. O óleo importado é produzido com alto rigor laboratorial, garantindo procedência, concentração e pureza da matéria-prima enquanto o óleo caseiro não passa por padrões técnicos de controle de qualidade e segurança.

>> Quem é a HempMeds Brasil?

A HempMeds® Brasil é pioneira na indústria do óleo de cânhamo (CBD). Nossa equipe é formada por brasileiros como você e temos orgulho de oferecer produtos de primeira linha à família brasileira. As práticas inovadoras da nossa empresa têm ajudado a estabelecer os padrões de qualidade da indústria de CBD. Dedicamos uma quantia considerável de recursos à pesquisa, controle de qualidade, desenvolvimento de novos produtos e educação. A HMBR está junto com as famílias brasileiras atuando com agências reguladoras, médicos e pacientes para facilitar o acesso ao CBD. Saiba mais sobre quem somos aqui: www.hempmedsbr.com

 

Referências:*

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2 Comentários

  1. Denise Rocha Cardoso disse:

    Minha sobrinha tem 18 anos e deu positivo p Ant Mog é mais agressiva e já apresenta seqüelas. Esse medicamento tb serve?

  2. Janete Silveira disse:

    Existe estudo para o uso do canabidiol no tratamento do Mal de Alzheimer??

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